Violão - Surgimento Longínquo*

*Bogdan Skorupa

Decidi fazer diferente da forma como havia pensado, não será uma descrição detalhada ou revolucionária sobre o violão, mas também não poderei ser chamado de mentiroso, pois farei algo diferente ainda relacionado ao violão; existe outra coisa, porém, que limita esta introdução, pois acima de tudo quero evitar criar expectativas prévias obre estar informações. Paro por aqui, agora começa o assunto que interessa. Vou fazer, por enquanto, um apanhado apenas a história mais antiga, até o Renascentismo...

Violão
Qualquer pessoa que se diga viva conhece um pouco, ouviu falar, e uma grande maioria já entrou em contato íntimo com este instrumento, que posso adiantar que é de uma simplicidade tamanha desproporcional à sua popularidade. Além disto, é versátil e de fácil execução, sua sonoridade acompanha de modo musical desde o início do aprendizado até o ápice do virtuosismo.

Desta forma podemos começar a entender a sua popularidade, pois um intrumento que motiva o estudo pela sua musicalidade inerente desde os primeiros acordes é facilmente aceito inicialmente como um compromisso de estudos prazeroso.

Digo isto principalmente pelo contato acirrado que tenho com o trompete, um oposto; facilmente notado como de difícil motivação inicial pelas notas ainda desfocadas ou inexistentes do primeiro mês de aprendizado. Os aprendizes tem que possuir uma vontade mínima no primeiro ano até conseguirem alcançar um nível de domínio sobre o instrumento e sobre seu próprio corpo; na realidade o primeiro ano pode ser apenas um décimo do tempo que levará para satisfazer-se completamente com as suas habilidades.

No violão, tocando apenas três acordes, mudando-se um pouco a formação rítmica, mesmo sem saber o que é isto, a pessoa motiva-se a continuar tocando estas músicas improvisadas. Talvez depois de algum tempo comece a surgir uma necessidade maior de tocar coisas diferentes e o aluno que agora já conhece todos os acordes procura um mestre, apenas para descobrir que conhece muito pouco de música e nem um quarto dos acordes que poderia formar.

No entanto, o que leva o instrumento a ter popularidade está além da facilidade, pois instrumentos muito mais simples (sem contar com nomes) poderiam ser alicerces da musicalização muito mais simplificados, possíveis até para crianças com um mínimo de habilidade motora. O violão provém de séculos de evolução desde o surgimento dos Cordófonos (instrumentos que produzem som a partir da vibração de cordas, de acordo com a classificação dos instrumentos musicais feitas por Erich von Hornbostel e Curt Sachs), sua proveniência mais aceita inicia-se no Neolítico. A partir daqui iniciam-se algumas avaliações lógicas sobre fatos, ditas por alguns como teorias.

Os arcos de caça foram em algum momento ouvidos por caçadores mais atentos; contando com o fato de que parte da composição do ser humano é a música, perceberam que sons interessantes surgiam quando as cordas eram tangidas com os dedos. Com a agricultura crescendo em importância no estilo de vida Homo sapiens (sapiens) alguns destes arcos puderam ser aposentados, da mesma forma como os caçadores nômades que podiam desfrutar de uma disponibilidade alimentar maior e mais constante.


Alaúde
Em algum processo de várias gerações e muita insistência, algumas cabaças, cocos, ou qualquer outra forma de caixa acústica, mas ainda sem nenhuma ideia com foco nesta utilidade, começaram a ser colocadas nas pontas dos arcos. Apenas no campo imaginativo, os novos sons conseguidos pelas caixas acústicas motivaram as modificações que tenderam para o surgimento dos instrumentos como o Alaúde, sendo este o principal representante dos cordófonos.

O alaúde é uma referência por causa da sua diversidade; instrumentos denominados como alaúdes são de uma variedade que abrange o tempo e as distâncias. Cada região, com o passar do tempo, teve uma forma diferente de alaúde desde mais de 5000 anos atrás, no surgimento do Egito Antigo, até a Europa da Idade média e além. A forma que pode ser dita como a de um Alaúde é proveniente da região do Egito e do Oriente Médio.

Porém o alaúde não parece participar diretamente da linha que originou o violão, por isto devemos notar que algumas características diferem entre o violão e o alaúde; a mais notada é o fundo do instrumento, em um é chato e no outro abaulado, mas em geral a ideia da formação do instrumento é a mesma: um corpo e um braço encimado por cordas, que são pressionadas contra a parte superior do braço. Existe outro instrumento que é marcante nas características dos seus sucessores, as harpas e liras.

Fazendo uma longínqua, a harpa incorporou-se à cultura helenística; dentro de toda a filosofia e importantes contribuições para a música, inclusive com a teoria musical, as harpas foram modificadas no que fez surgir um instrumento característico e que é recordado sempre que se fala nos Gregos: a Cítara (também chamda de Kithara). Com um corpo acústico formado por peças separadas em fundo, lateral e tampo, o instrumento era mais robusto do que as liras e possuia uma complexidade maior inclusive na construção. Junto ao corpo havia um braço, que a princípio apenas esticava um grande número de cordas, sem que pudessem ser pressionadas para tocar notas mais agudas, estas podiam ser afinadas por cravelhas na ponta.

A partir de adaptações regionais, surgiram instrumentos que transpassaram a queda do Império Romano e talvez por inspiração mista entre a cítara e o alaúde ganharam um formato mais anatômico e também mais simples do que os complicados instrumentos abaulados de várias peças coladas, além de menos cordas e com construção um pouco mais fácil. Em parte este foi o início da popularização do instrumento, pois simplificando a construção as pessoas poderiam fazer os seus próprios instrumentos.

O contato com os mouros foi marcante para o surgimento de um instrumento baseado fortemente nos alaúdes da região e que fez com que surgissem os primeiros representantes das futuras guitarras espanholas e portuguesas. O antecessor mais importante da Idade Média e Renascimento é a Vihuela, uma forma marcante com as mesmas curvas do violão moderno, com uma ou mais rosetas em bocas feitas no tampo; tampo, fundo e lateral em três partes separadas e fundo chato. Algumas características variavam, principalmente o número de cordas (feitas de tripa) e o número de cordas por ordem, sendo que os instrumentos mais complexos do período Renascentista podiam ter duas cordas que são tocadas juntas por vez (ordem com duas cordas). Os trastes eram móveis, cordas enroladas no braço.

Já no século XVI, a Vihuela era um instrumento de cortes e de populares, sendo este segundo grupo o responsável pela criação da música popular do fim da Idade Média. É possível imaginar um modo popular da música nas ruas: uma Vihuela, um banquinho, uma roda de pessoas, provavemente um cantor, talvez até um outro felizardo com um instrumento e dezenas de histórias para contar em melodias do povo.

Deixo a partir daqui um bom momento para reflexão e para que se criem as conexões destas épocas passadas com a nossa realidade. Incluo duas amostras musicais de peças sobreviventes do Renascimento:

Vihuela
Alaúde