Parentes dançantes - Raízes do violão no Renascimento

Renascimento tardio e transição para o Barroco

Bog dos Santos

Nesta semana, para que todos tenham disposição em ler mais sobre o violão, continuarei a nossa história falando do período do Renascimento tardio. Para as pessoas que pegaram o conto pela metade, o início de todas as viagens pelo surgimento de um dos instrumentos mais populares do mundo (se não o maior) está no post do dia 16/10; Violão - Surgimento Longínquo. Nele eu começo a procura pelo caminho que nos trouxe ao (sem exageros) estilo de música que nos acompanha na atualidade. Hoje alguns pontos importantes em um período pequeno (1550-1620), mas que neste momento ainda não posso adiantar qual será a dimensão final; só espero que seja o suficiente para despertar a curiosidade de músicos e interessados, e talvez - se eu conseguir ser mais audaz - conquiste até algumas pessoas que a princípio se achavam não muito interessadas no assunto.

Como já havia comentado anteriormente, a Vihuela veio desde a Idade Média dominando o cenário musical popular, da música dos nobres e na Igreja; os três tinham características próprias no estilo musical, mas em essência compartilhavam de muitos detalhes da música.

Talvez algo que não tenha sido comentado muito foi a importância da música popular no Renascimento. No final da Idade Média surgiram inúmeras manifestações culturais populares; as principais foram os trovadores (músicos que recitavam versos acompanhados de instrumentos solistas, como liras, guitarras, alaúdes, etc) e as danças das cortes. Estas últimas influenciaram em muito a música renascentista, que voltou-se muito para a música. É importante notar que os corais da Idade Média alcançaram um nível muito grande de complexidade, mas paralelo à isto a música instrumental ganhou grande destaque com composições de danças típicas de cada país. As Vihuelas e um novo instrumento surgido desta, as Guitarras Renascentistas, receberam atenção especial pela execução mais fácil e pelo som que se adaptava bem aos ritmos dançantes; a forma do som era leve, um pouco indefinida. Muitas vezes acompanhavam instrumentos de sopro e de percussão. Outro instrumento importantíssimo para esta época foi o surgimento do cravo, foi o primeiro instrumentos que pôde ser referência de afinação para outros, pois no final deste período criava-se a afinação temperada, fazendo com que todos os intervalos fossem padrão por todo o instrumento. O cravo também marcou por sua abrangência na harmonia, podendo ser tocado com as duas mãos, podendo intercalar melodia e harmonia em um instrumento.

Neste pequeno período houve uma modificação importante, a Vihuela passou a ter apenas 5 ordens, assim como os instrumentos derivados dela. Para que fique melhor entendido: cada ordem pode ser composta de uma ou mais cordas, a utilidade destas cordas extras era formar um sistema harmônico mais forte, ou seja, a presença de uma corda em oitava mais aguda ou mais grave fazia com que o som de cada ordem tocada fosse mais cheio. Como os instrumentos da época tinham as cordas muito baixas e estas feitas de tripas a projeção de som era muito reduzida; as cordas duplas "enchiam o som".

As cordas de tripa eram muito ineficientes em especial na região grave, havia para cada instrumento um mínimo que a corda poderia ter de espessura para que produzisse som. O problema de ter cordas muito grossas foi resolvido por volta de 1600. As cordas mais graves ganharam um enrolamento de metal ao seu redor, com isto as cordas vibravam mais, sem perder o som e podendo ser relaxadas para extensões mais graves.

Até o período de transição para o Barroco ainda não eram utilizadas travessas ou barras harmônicas, os reforços eram feitos de papel colado na madeira; em geral isto possibilitava fundos dos instrumentos feitos com inúmeras peças de madeira separada, que eram coladas, formando belos desenhos. Porém esta formação reduzia a resistência dos instrumentos e influenciavam mais ainda na textura leve e indefinida do Renascimento. Algumas destas formas foram sendo abandonadas, ainda mais quando os instrumentos começaram a não suportar mais as tensões das novas cordas com metal... Muitas modificações começaram a ser feitas na procura de novos sons, chegando no assunto da próxima semana: o período Barroco; onde se destaca a intensidade musical e o virtuosismo!